terça-feira, 2 de novembro de 2010

S.C.V. Juventude do Samba

Nome da Escola: S.C.V Juventude do Samba
Fundação: 03/07/10
Cidade-Sede: Curitiba-PR
Cores: Azul e Branco
Símbolos: Estrela

Presidente: Sérgio Falcão Lopes
Carnavalesco: Gustavo Raphael Ferreira "Cristal"
Intérprete: Marcelo Jakaré

Enredo 2011: “Nas Ruas de Vila Rica, Francisco: O Aleijadinho"

Assim se conta a historia do artista, escultor, entalhador, santeiro e arquiteto chamado Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, mestiço, bastardo e doente, homem feio mais teimoso que, em madeira e pedra, construiu a arte de uma época. Lá estão, em Minas, os passos e os profetas, as imagens, os crucifixos, as fontes, as portas, as pias, os púlpitos, os brasões, os lavabos e as igrejas. Lá estão, em Minas, as cidades do Aleijadinho, Vila Rica (hoje Ouro Preto), Mariana, Sabará, São João Del Rei e Congonhas do Campo, lá estão, em Minas, todos os trabalhos do seu gênio.

Vila Rica não tinha esse nome a toa, mais do que a grande cidade de Minas, era o lugar para o qual convergia todo o ouro extraído nas Gerais, tinha bom comercio, clero culto, doutores estudados na Europa, poetas e músicos, em cerimônias, festas, procissões, nada havia que lhe chegasse aos pés em todo Brasil. E, se o ouro de Minas, corria para Portugal, alguma sobra ficou em Vila Rica, nas igrejas, nas fontes, nos sobradões. As construções se multiplicavam e trabalho para carpinteiro era o que não faltava. Foi isso que atraiu o pai de Aleijadinho, Manoel Francisco Lisboa, que chegava de Portugal em 1724, seguindo, exemplos do irmão, Antonio Francisco Pombal. A ambos, pai e tio, o Aleijadinho deve o rumo que tomou na arte.
Seu tio trabalhou na construção da casa da Câmara e Cadeia de Mariana, era afamado entalhador, foi ele quem completou a ornamentação da capela-mor da igreja de Nossa Senhora do Pilar, matriz do bairro de Ouro Preto. Quanto ao pai, a partir de 1745, quando o Aleijadinho era ainda um menino, participava de algumas obras de vulto: a Casa da Câmara e Cadeia de Vila Rica trabalho de talha no altar de São Miguel e na Capela-Mor da Matriz de Catas Altas, a ponte sobre o córrego de Antonio Dias, em Vila Rica, mais o chafariz dessa mesma ponte e do chamado Pissarrão.
Da-se como certo que o menino Antonio Francisco Lisboa, mais tarde, acompanhou o pai nos seus trabalhos de entalhador, desenhando fachadas de igrejas e ajudando nos projetos. Seu pai casou-se em 1738, com Antonia Maria de São Pedro, portuguesa de Funchal, com que teve quatro filhos, mas, nesse ano, nada se sabe da infância do menino Antonio, nada a não ser que era bastardo, filho de português e escrava, fato comum na época, mulato, num tempo de terríveis preconceitos, nascido fora do casamento, Antonio cresceu, ao que se supõe, fortemente disposto a arrumar oficio e a fazer a vida.
A Riqueza dos entalhes e das esculturas sugere um artista viajado, lido e muito estudado, e o Aleijadinho não saiu de Minas, não leu mais que a Bíblia e uns poucos livros, não estudou alem do que lhe ensinaram o pai, os frades e os mestres com quem trabalhou, só o favorecia a atmosfera de intensa criação artística em que viveu, e o ambiente, agindo sobre seu gênio, foi capaz de fazê-lo maior do que a arquitetura e escultura de seu tempo. Como quase tudo naquela época de comunicação difícil e numa colônia ainda rude, o estilo barroco, que dominou a Europa no século XVII, só chegou ao Brasil pela metade do século XVIII, em Minas, co, o ouro, entretanto, o barroco se enriquece, brotando em novas formas, os interiores cobertos de ouro e muitos azulejos.

Enquanto a Ordem Terceira do Carmo aprova o projeto do pai para sua igreja, a Ordem Terceira de São Francisco aceita o do filho para a capela da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitencia, as duas confrarias são as mais importantes de Vila Rica, mas nesse confronto não houve vencedor, pois ambas as igrejas surgem igualmente magníficas. As duvidas sobre a capacidade do Aleijadinho como arquiteto desapareceu com a construção da igreja de São Francisco, e, mais ainda, nas reformas do frontispício da Matriz de Morro Grande, onde tenta um novo tipo de fachada; no desenho da porta e do brasão da capela da Ordem terceira do Carmo, de Sabará, na reforma da fachada dessa mesma igreja; nos projetos para capela da Ordem Terceira de São Francisco, em São João Del Rei, e, também, ao desenhar o frontispício da igreja da paróquia de São Jose Del Rei, atual Tiradentes.
Apartir de 1769, o Aleijadinho, hesitante entalhador de dez anos antes, troca a madeira pela pedra-sabão, começa esculpindo púlpitos, e daí para frente que ele faz suas melhores imagens, portas elaboradas e as grandiosas esculturas de Congonhas do Campo. Os afortunados adotavam as modas do tempo: cabeleira empoada, chapéus de três pontas, espartilhos, coletes de cetim, bengalas de ponteira de ouro, um mundaréu de luxo e de inveja.

A simplicidade das primeiras casas acrescenta-se varandas, quartos de hospedes, salas de visitas, forros de madeira e grades pintadas de vermelho proteger as janelas, tempos opulentos e romanteios. Ate os 47 anos, Antonio Francisco Lisboa viveu com saúde, com essa idade, teve um filho natural, a quem deu o nome do pai, só pensava em arte, era alegre, comunicativo, amigo de comer bem e de dançar pela noite adentro, por essa idade, veio à doença deformante, que querem seja zaparina, outros, um tipo de encefalite, ou então escorbuto, moléstia decorrente da falta de vitaminas; e há ainda quem fale em sífilis.
A doença o martirizou ate a morte e, ao mesmo tempo que lhe consumia o corpo, envenenava-lhe o temperamento, de alegre e comunicativo, passou a triste e fechado, irritava-se facilmente, trancava-se em desconfianças e de puro ressentimento, descobria escárnio onde havia admiração.
Os três escravos de Antonio sofriam em suas mãos, enquanto o Aleijadinho trabalhava escondido de todos, a toda a parte o seguia o escravo Mauricio, bom entalhador, era fiel e dedicado, embora seu dono volta e meia descarregasse sobre ele as iras e a bengala, o escravo Agostinho também o ajudava como entalhador, e Januario assentava-o no burro e guiava o animal, mas se o Aleijadinho queria ir a Matriz de Antonio Dias, vizinha a sua casa, Januario carregava-o as costas, se ia à igrejas mais distantes e não usava um burrico, fazia-se conduzir numa espécie de liteira. Depois de atacado pela doença, passou a vestir uma sobrecasaca azul de pano grosso, que lhe chegava aos pés, calçava sapatos pretos especiais para montar, vestia capote escuro e largo, de mangas folgadas e gola alta, o chapelão de abas largas preso a capa, não queria ser visto por ninguém.

Nos últimos anos de sua vida, o Aleijadinho pouco trabalhou, a não ser dirigindo a feitura de altares, contratado pelo seu ex auxiliar Justino, e não conseguia terminar as tarefas, muito fraco, muda-se para a casa de sua nora Joana, onde durante quatro anos aguardava a morte. Deitado sobre um extrado feito de tabuas, passou dois anos inteiros sem sair do leito, com um dos lados do corpo horrivelmente machucado, sempre a ler a Bíblia e pedindo ao senhor que lhe desse descanso. Finalmente, a 18 de novembro de 1814, morre o grande artista, seu enterro é simples e pobre, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Antonio Dias.

“Era uma vez Aleijadinho, não tinha dedo, não tinha mão, raiva e cinzel lá isso tinha, era uma vez um Aleijadinho, era uma vez muitas igrejas com muitos paraísos e muitos infernos, era uma vez São João, Ouro Preto, Sabará, Congonhas, era uma vez muitas cidades e um Aleijadinho era uma vez”.
Sergio Falcão e Marcelo Jakaré