segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

CESV Imperador


Nome da Escola: Comunidade Escola de Samba Virtual Imperador
Fundação: 31-12-2008
Cidade-Sede: Santos
Cores: Verde, Amarelo, Azul, Branco e Dourado
Símbolos: Coroa e Dragão

Presidente e Carnavalesco: Raphael
Interprete: Gláucio Guterres
Autor de Enredo: Edson FJ
Enredo: Fui no Itororó beber água lá fiquei
“Santistas, prestem atenção na história incrível que tenho para contar a vocês!” Aos poucos, aquele lugar, sempre vazio, encheu-se de pessoas curiosas para ouvir o que aquele velho maluco tinha a falar. “Vou contar a história desta bica, que confunde-se com a história da cidade. A história das embaixadas, do cassino, da capela no alto morro. - Contavam que quem bebesse da água dessa fonte mágica, jamais deixaria de viver em Santos. “Bebeu água da biquinha”, diziam quando alguém vinha morar aqui. Eu estou aqui, eu bebi da água da biquinha, sou a prova dessa história.”
As pessoas estavam entretidas com a história daquele velho maluco e, como era domingo mesmo, continuaram ouvindo, pra terem assunto no trabalho na segunda.
“Tudo começou quando trouxeram a imagem da Nossa Senhora de Monte Serrat, a quem foi construída a capela lá do alto. À nossa santa padroeira, agradecemos por defender a nossa terra e a nossa pátria, como quando os piratas vieram nos saquear” As crianças estavam imóveis, queriam ouvir aquela história dos piratas.
“Foi em mil seiscentos e alguma coisa, não me lembro bem... Os holandeses decidiram invadir a capitania de São Vicente. Por onde passavam, roubavam tudo e agrediam todos. A população foi recuando e cedendo território, até que o último lugar a se proteger era esse monte. Todos subiram e se esconderam nos túneis secretos que existem aqui. Mas os piratas iam atrás, e não cediam. Queriam roubar mais. As mulheres ajoelharam-se e pediram proteção à santa. Foi quando a terra deslizou em cima dos holandeses, matando a maioria. Os que sobravam vivos trataram de fugir quando perceberam que as forças divinas não estavam do lado deles”
Continuou:
“Conta-se também que a nossa santa fez mais um milagre, sendo este ainda mais impressionante: Um barco nacional, de nome Araguary, estava em alto mar no meio de uma grande tempestade. O chão dos marinheiros balançava sob seus pés. Os raios gritavam, transformando o breu num branco pleno, sendo possível enxergar, entre um raio e outro, as faces desesperadas dos navegantes, que já viam o naufrágio e a morte como certas. Então eles se ajoelharam em louvor à Santa. Os olhos fechados, as vozes desesperadas em meio ao barulho da ira dos céus. Mas, assim que começaram a rezar a tempestade cessou e, ao abrir os olhos, viram nos céus nuvens brancas, que se dispersavam, revelando um céu azul e raios de Sol”.
O velho havia perdido toda a credibilidade quando contou essa história. Mas havia se tornado o contador de histórias favoritos de toda gente que o ouviu –que, mesmo que tentassem repeti-la, não conseguiriam fazer tão bem.
“Por isso, as pessoas subiam até a capela, lá em cima, à pé ou de joelhos. Mas subiam ao morro pessoas de outra fé, também, que iam ao alto do Monte para construir, mesmo sem saber, um gigantesco patrimônio cultural nacional. Faziam festas com um ritmo cheio de instrumentos de percussão, que até era parecido, mas diferente do samba.” Eles dançavam a umbigada. Aí, quando no meio da dança alguém conseguia derrubar o outro, cantavam: “Facão bateu em baixo / a bananeira caiu...”. As embaixadas, como eram chamados esses grupos, foram proibidas por pressão da igreja católica.”
“Mas também ia ao morro festejar a população mais rica. Lá no alto, ao lado da capela, tem um prédio enorme. Durante a década de 40, ele era um cassino muito famoso. Para que as pessoas chegassem lá, construíram um engenhoso sistema de bondes, onde o bonde que descia empurrava com seu peso o que subia. Hoje, o cassino está desativado e o bonde só sobe a cada meia hora. Um triste fim...”
Quando a história começava a desenhar um fim, aparecem as autoridades da cidade, querendo saber porque havia tanta gente num lugar usualmente vazio. “O tio tava contando uma história pra gente!”. Mas quem acabava de chegar não via “tio” nenhum. “Aquele, do lado da fonte”, apontavam.
Começaram uma discussão sobre a existência do velho. Ele existia, e ainda estava lá. “O velho fugiu”, pensavam. No meio da confusão, o velho gritava, tentando ser ouvido: “Eu não sou uma alucinação. Eu sou a consciência de vocês e a alma do povo santista.” Uma das crianças perguntou como que ele poderia ser a consciência das pessoas. “Não sei, mas eu sou. Me apresentei hoje como velho porque costumam fazer com eles o mesmo que fazem com a história: esquecem! Não deixem a história morrer, não deixem esquecer nosso passado. Ouçam suas consciências!”
Ninguém ouviu.