segunda-feira, 6 de setembro de 2010

G.R.E.S.V. Bambas Sambario

Nome da Escola: G.R.E.S.V. Bambas Sambario
Fundação: 1º de Agosto de 2008
Cidade-Sede: Porto Alegre
Cores: Verde, Vermelho e Amarelo
Símbolos: Pandeiro

Presidente: Marco Maciel
Carnavalescos: Luís Butti e Leonardo Moreira
Intérprete: Antônio Carlos
Enredista: Luís Butti
Enredo 2011: Moro Onde Não Mora Ninguém, Mas Sambo Onde Você Samba Também
Bom dia, boa tarde, boa noite. Queria lhe pedir uns minutinhos de atenção. Meu nome é Antônio, nasci no Rio de Janeiro em Agosto de 1942, mas isso não importa muito.
Sabe, seu moço, a minha vida foi difícil. Nasci e cresci no Morro do Juramento, no meio da miséria e da violência. O meu pai, era músico, mas perdi quando ainda era menino. Assim, passei a trabalhar para sustentar a minha mãe, que era faxineira lá no Morro. Aos 18, entrei para a Aeronáutica, mas acabei sendo expulso. Fugia sistemáticamente para viver um de meus maiores prazeres: as mulheres.
A minha vida profissional começou como Office-Boy da Embaixada da Alemanha, no Rio de Janeiro, mas o batente começou mesmo lá na extinta TELERJ, como um simples técnico projetista. Mas, apesar do samba ter começado pelo telefone, meu negócio não era ser técnico projetista não. Eu queria mesmo era ser um cantador !
Cantador. Isso mesmo, seu moço! Cantar, fazer o povo feliz, fazer meu pé de meia, e quem sabe, até aparecer nessa Televisão, que corre o mundo de meu Deus. E foi assim que começava a minha história como um cantador. De Samba, Baião, Romântico, um Forró, um samba-enredo ou até mesmo um Partido Alto. Sabe aquelas músicas populares, de boemia, tomando uma cachacinha, comendo uma lingüiça e beijando na boca uma menina de cabelos longos? Era disso que eu gostava, seu moço.
Nos anos 70, a garotada só queria saber de Tropicalismo, cabelos ao vento, o iê-iê-iê, cantar contra a Ditadura Militar. Me chamavam de brega, de malicioso e até de bizarro. Mas eu fui a luta. Em 1975, ao lado do amigo Canário, lancei num compacto minha primeira canção, que até o Wando regravou, era mais ou menos assim:
Moro... Onde não mora ninguém
Onde não passa ninguém
Onde não vive ninguém
É lá onde moro
Que eu me sinto bem...
Não dava nem pra acreditar. Gente, o meu compacto virou sucesso! E com essa canção, eu finalmente ganhava as rádios e vitrolas deste meu país. 950.000 cópias. E foi a partir daí que eu começava a minha carreira pra valer.
Com um terno e um par de sapatos, igualmente brancos e um estilo pra lá de romântico-sensual, passei a embalar os bailes do interior do Brasil. Mas a resistência da imprensa e das Rádios FM não iam embora. Era difícil lutar contra a mídia e esse pessoal de música mais sofisticada. Ninguém queria saber de mim não. Mas até que um amigão de São Paulo, chamado Gilberto Vasconcelos, me apelidou de Sambão-Jóia.
E, três anos depois, veio o segundo LP. Porém, a música mais famosa deste disco, tinha um balanço tão gostoso que dizia assim, olha:
Êi...Êi....Êi !
Menina de Cabelos Longos
Quero te levar pra longe
No primeiro bonde
A gente pode partir
...
Pra comer, beber, dormir...
Pra comer, beber, dormir...
... e não pagar
Com tanta gente nesse meu Brasil ouvindo minhas músicas, após o compacto de 1975, surgiram mais um, dois, três LPs. E junto do trabalho ao lado de parceiros maravilhosos, veio o reconhecimento. E, no balanço do romantismo, do samba e do baião, fui parar na grande mídia. Em 1984, eu tive até uma canção que foi parar na novela "Vereda Tropical", da Rede Globo. Era a "Deixa Eu Te Amar". Com essa canção tocando toda hora na novela, e a novela fazendo bonito na audiência, o disco atingiu um milhão de cópias. É isso mesmo. Fui o primeiro artista de samba a vender um milhão de cópias e ganhei uma Mercedes da gravadora. Virei até capa da Revista Veja dois anos depois! Isso mesmo, a imprensa que não queria nada comigo nem com minhas músicas, nos anos 70, veja você, agora eu era reportagem de capa da principal revista deste país tão popular.
Ah, e a música que estourou na novela? Canta comigo, canta...
Deixa eu te amar
Faz de conta que sou o primeiro
Na beleza deste teu olhar
Eu quero estar o tempo inteiro
Depois da novela e da capa da revista, não tinha mais volta. Eu finalmente era um cantador reconhecido pelo povo do Brasil. Meu som, apesar de simples, era sucesso. E, graças a Deus, não demorou para outros discos e canções surgirem. Logo virei figurinha carimbada no programa do meu amigo Abelardo Barbosa. O Cassino do Chacrinha. Um dos programas de auditório mais famosos do Brasil, quem diria, me recebia por sábados e sábados. E, ao som de "Virou Mania", "Dona do Meu Ser", "Cama e Mesa", Cheiro de Primavera", "Boca de Mel" entre várias canções de meus LPs, ao lado de tantos parceiros queridos, eram várias tardes e noites felizes, em programas de TV.
Seu moço, esqueci de te falar uma coisa. Assim como você, eu também gostava muito de escola de samba. E, como não podia deixar de ser, entrei para a Ala de Compositores da nossa querida Portela. Não só da azul e branco de Madureira, mas tinha um carinho imenso pelas escolas e seus grandes baluartes. Além de concorrer com sambas-enredo na Portela, poder regravar clássicos como "Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de Uma Noite", "Festa Profana", "Portela na Avenida", entre outros, pra mim, foi um prazer. Minha Portela querida... Que saudades de você.
E vieram novos sucessos, novos parceiros, novas gravadoras. Era "Ilê Ayê" pra cá, era "Minha Cachaça" pra lá e a felicidade, que eu sempre quis pro Morro do Juramento e pra todo esse meu Brasil, era real. O tempo passou, e até que um dia, recebi um chamado daquele que a vida inteira, agradeci imensamente por cada canção e cada sucesso.
É que o negócio ali pros lados do andar de cima, estava muito monótono, sem graça. Ali não morava ninguém, não passava ninguém, e o Criador me chamou para fazer, ao lado de anjos e querubins, um lindo "Forró em Cachoeira", com um coqueiro alto e um cachorro magro amarrado por lá. Afinal, se ali é mesmo o paraíso, era preciso ter um pouquinho mais de alegria. Já tem quinze anos que eu me mudei pra lá.
Hoje, sou saudades aqui na terra. Mas, olha só. Sempre que quiser se lembrar de mim, só lembrar daquela menina dos cabelos longos e olhar pra uma estrela, que lá de cima, eu estou olhando por você também. Eu quero sempre te ver com um sorriso no rosto.
Ah, o meu nome artístico? Esqueci de dizer. Antônio Gilson Porfírio, ao seu dispor. Mas, se quiser, pode me chamar simplesmente de Agepê. Muito obrigado pela atenção, moço. Seja feliz aí na terra que eu também sou bem feliz aqui em cima, sendo homenageado pela Bambas Sambario, escola onde você samba também.
Ninguém calará nosso barracão!
Luís Butti
Carnavalesco G.R.E.S.V. Bambas Sambario
Texto e Pesquisa:
Luís Butti, Marco Maciel e Thiago Meiners
Fontes:
http://www.brasilbar.com/Agepe/discografia.htm
http://www.brasilbar.com/Agepe/biografia.htm
Almanaque Anos 80 - Luiz André Alzer e Mariana Claudino, Ed. Ediouro.
Revista Veja - Janeiro 1986
Encarte Agepê - Coletânea Millenium 2000 - Universal Music